
02. Com o passar dos tempos, muitos termos vão se enriquecendo de novos significados. “Vocação”, palavra que na sua origem ou etimologia quer dizer “ato de chamar”, “convite”, “apelo”, “chamado”, biblicamente falando, é proposta de Deus dirigida ao ser humano, esperando dele uma resposta. Entre as diversas vocações bíblicas, citamos as de: Abraão (Gn 12,1); Moisés (Ex 3,10); Isaías (Is 6,8-9); Jeremias (Jr 1,5-7); Ezequiel (Ez 2,3); Maria (Lc 1,30-31); João Batista (Lc 3,2-3); Apóstolos (Lc 6,12-16). Todas elas, igualmente como outras vocações de teor eclesial, têm sentido somente na medida em que estão endereçadas à busca da santidade, visando sobretudo o bem espiritual da comunidade.

A experiência mostra que o surgimento e o desenvolvimento da vocação religioso-sacerdotal nas crianças, nos adolescentes e nos jovens enfrentam dificuldades e solicitações, tais como :
a) o fascínio da chamada “sociedade de consumo”, que leva muitos a verem e a viverem a vida de uma maneira individualista, materialista e hedonista. Para os seguidores deste estilo de vida, o bem-estar materialista impõe-se como único ideal de vida, onde se recusa tudo o que supõe sacrifício e renúncia para se viverem os valores espirituais e religiosos;
b) visão distorcida da sexualidade humana, que faz perder o senso da sua dignidade e da sua beleza como serviço à comunhão e à doação entre as pessoas, reduzindo-se simplesmente a um bem de consumo. Perde-se de vista aquele crescimento harmonioso e alegre da própria personalidade;
c) experiência distorcida da liberdade que, em vez de ser obediência à verdade objetiva e universal, torna-se como que uma adesão cega às forças do instinto e à vontade de poder de cada um.

05. Um dos encontros marcantes na caminhada vocacional de S. Francisco foi, sem dúvida, o apelo do Crucificado de São Damião, assim descrito pelo seu primeiro e grande biógrafo, Frei Tomás de Celano: Já transformado no coração, devendo em breve transformar-se totalmente no corpo, num certo dia anda perto da igreja de São Damião. Conduzindo-o o espírito, ao entrar para rezar, prosternando-se suplicante e devoto diante do Crucificado e tocado por visitações insólitas, sente-se diferente do que entrara. Imediatamente a imagem de Cristo crucificado, movendo os lábios da pintura, o que é inaudito desde séculos, fala-lhe, enquanto ele está comovido. Chamando-o, pois, pelo nome, diz: ‘Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída’ (2Cel 10,1-4).

Frei José Soares da Silva, Ofmcap. (Org.)
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