Carta Circular a
todos os Frades da Ordem
Sobre a Formação
inicial
(Prot. N. 00766/08)
Reacendamos a
chama do nosso carisma!
Caros irmãos,
1.
Na Carta programática do início do sexênio[1], no ponto três, anunciava a decisão do
Definitório Geral “de constituir um Conselho
Internacional da Formação[2]” para apoiar o Departamento Geral da Formação.
Isto para “possibilitar uma visão atualizada do que ocorre no campo formativo,
tanto no que se refere à formação inicial quanto à formação permanente”[3]. A decisão amadureceu em seguida ao Capítulo Geral
de 2006 tendo em conta as primeiras experiências que o Definitório Geral teve
no contato direto com várias Circunscrições. Depois do primeiro ano de serviço
como Ministro Geral e como Definidor, nos fizemos esta pergunta: “O que é
mais necessário à nossa Ordem neste momento?” A resposta unânime foi: “a
formação”. Por isso quisemos apoiar e incrementar o empenho que houve até
agora neste setor e decidimos
renovar o Departamento Geral da Formação[4], que no seu conjunto e nas suas diversas
articulações quer cumprir o que está prescrito nas Constituições, 24. O
Departamento Geral da Formação é presidido por um Definidor Geral, enquanto
acompanhador e natural intermediário entre o mesmo Departamento Geral da
Formação e o governo da Ordem. O Secretariado Geral da Formação, composto
atualmente de quatro frades provenientes de diversas áreas[5], tem a tarefa de colaborar diretamente com o
Ministro Geral e seu Definitório em tudo o que concerne os vários âmbitos da
formação (inicial, especial e permanente). Ele tem a tarefa de refletir e de
projetar, mas também um papel executivo. Este organismo central da Cúria Geral
é de fundamental importância para a vida da Ordem; desejamos vivamente que sua
ação, segundo os objetivos previstos pelas Constituições, se desenvolva ainda
mais e resulte sempre mais em benefício de toda a nossa Fraternidade. Enfim o
Conselho Internacional da Formação colabora com o Secretariado Geral como órgão
de consulta e de avaliação.
2.
Em minha Carta
faço algumas considerações principalmente sobre desafios emergentes no âmbito
da formação inicial, mesmo se é mais do que evidente que o discurso poderia
ser ampliado sem problemas para a formação especial e a permanente[6]. De fato quando em alguma parte aparece um
elemento de fragilidade, pode-se ter certeza de que isto está ligado a uma
série de fenômenos que tocam todo o organismo. As incertezas que podem ser
encontradas no percurso da formação inicial não são senão um reflexo das
incertezas constatadas na vivência quotidiana dos frades. Quando a percepção do
carisma se torna incerta, isso repercute no plano de iniciação à nossa vida. É
evidente então que se trata de fazer escolhas. Como Definitório Geral
optamos por tratar do tema pela porta da formação inicial. Estamos conscientes
de que jamais se poderá enfrentar de modo adequado um aspecto da formação sem
tocar os outros. Há quem afirme que a crise da formação inicial se deve
essencialmente à crise da formação permanente. Faltando um sério caminho de
adequação aos valores da vida fraterna evangélica, temos pouco a dizer e ainda
menos a exigir de quem empreende o caminho inicial. Isto certamente é verdade.
Outros, ao contrário, afirmam que a crise é sobretudo dos formadores, que não
sabem muito bem como conduzir sua tarefa e frequentemente dedicam mais tempo a
outras incumbências do que à formação[7]. De qualquer parte que se queira iniciar o
discurso as interrogativas que me ponho são: sob quais aspectos se deverá
insistir para corrigir as tendências problemáticas que logo indicarei? E ainda,
em que modo se impostará a formação inicial, para que o candidato à nossa vida
descubra, também através do esforço, a beleza inerente à doação total de si
mesmo?
1.
Algumas urgências do momento
4.
Esta carta tem origem num elemento mais específico de quanto foi dito até
agora. Quero com isso participar a vocês algumas preocupações que tenho
comigo e que se fundam em dados observáveis. Tentarei fazer um elenco não
exaustivo, consciente de que se trata de tendências. Encarando-as agora podem
ser vistas na sua real dimensão, evitando alarmismos inúteis. Cabe às
Instituições que citei acima fornecer dados ulteriores e elaborar propostas
concretas para vivenciar plenamente o carisma capuchinho no presente e no
futuro imediato. Antes de tudo é preciso reacender a chama de nosso carisma,
lembrar que Francisco nos quis como frades menores e que no seu projeto de
vida, institucionalmente fez abstração das conotações clericais e laicais, como
traços constitutivos dos membros da Ordem.
5.
Mas vamos às urgências às quais acenei e que recolhi como minhas impressões em
vários pontos da Ordem. As visitas às várias Circunscrições, a presidência de
Capítulos, o confronto com o Definitório Geral, mas também o estudo dos
relatórios da metade do triênio, propiciam ótima observação sobre o que a Ordem
está vivendo em vários níveis.
1ª URGENCIA: 1.1 Onde está o espírito missionário?
6.
O primeiro dado concreto diz respeito à queda na disponibilidade de ser
enviado em missão para primeira
evangelização ou para lugares em situações difíceis por razões econômicas,
sociais e políticas. Repetidamente nossa Ordem é convidada por Pastores de
Igrejas locais para assumir a responsabilidade pastoral de lugares onde é
necessária a primeira evangelização ou onde ocorre fortalecer um trabalho
iniciado há poucos decênios. Constatamos que é muito difícil aderir a tais
pedidos, e isto também da parte de Circunscrições com um bom número de
vocações. As maiores dificuldades devem-se ao fato de que este tipo de
empenho requer grandes sacrifícios e freqüentemente exige estabelecer-se em
lugares privados das estruturas de comunicação às quais nós estamos habituados
um pouco em toda parte (acesso à internet, etc.). Preocupa-me o fato que
muitos se concentram primariamente sobre o que poderia vir a faltar a si
mesmos, enquanto nos esquecemos facilmente das pessoas que ainda não conhecem o
Evangelho ou que precisam ser acompanhadas em sua caminhada de integração dos
valores cristãos. Posso citar-lhes mais de um caso onde se nota esta
dificuldade de ir a territórios pobres e às vezes perigosos. Graças a Deus, tenho encontrado também jovens dispostos a
partir imediatamente, para desafios novos e exigentes. Não quero tampouco
esquecer os irmãos que há muito tempo dedicam a sua vida à missão.
A resistência a empenhar-se onde as condições
de vida são difíceis, deve ser entendida no substrato de um elemento que
caracteriza o nosso carisma capuchinho: prontos a andar onde ninguém está disposto a ir, prontos a deixar o
eremitério para prestar sua ajuda incondicional a quem sofre de doenças
incuráveis ou entre os que ainda não receberam o primeiro anúncio da fé. É
parte integrante de nosso carisma assumir tarefas missionárias em fraternidade
e promover em qualquer lugar o espírito fraterno, envolvendo as pessoas,
enfrentando e resolvendo conjuntamente os desafios encontrados[8].
2ª URGENCIA: 1.2
A missão exige tempo prolongado
7.
Outro dado que tenho encontrado diz respeito ao tempo consagrado à presença
missionária. Existem Circunscrições que deram o seu “sim” para ir a um país
ou território de “missão”, mas se encontram a mendigar ou às vezes a pelejar
com frades destinados à missão pois freqüentemente o tempo de permanência se
reduz a três anos ou pouco mais. Alguns confrades condicionam a sua
disponibilidade para a missão à promessa de poder em seguida prosseguir estudos
superiores. Pergunta-se: como poderemos conhecer a fundo uma cultura se não
nos damos nem o tempo de aprender e aprofundar a língua do lugar? Como
poderemos amar a população a nós confiada se, com a mente e o coração estamos
em outro lugar? Existe verdadeiramente o perigo de introduzir um tipo de
obediência condicional: “Estou disposto a fazer o que me é pedido, contanto que
não dure mais de tanto tempo!” Também neste caso não esquecemos os frades que
há tantos anos vivem em contextos bastante diferentes dos de sua origem e estão
dispostos a continuar na sua missão até à morte. As Circunscrições que enviam
irmãos a outros países confiando a eles a tarefa da primeira evangelização ou
de suporte às igrejas locais, devem empenhar-se em sustentá-los adequadamente
para que não se sintam sós e deixados à sua própria sorte.
3ª URGENCIA: 1.3 Trazer no coração um projeto para o povo
8.
Vejo nos candidatos das jovens Circunscrições um desejo muito forte de poder um
dia achegar-se às Circunscrições do norte, para adquirir estabilidade. Há quem
pensa que por “ser de fato” capuchinho tenha adquirido o direito de ter acesso
em seguida, a uma especialização universitária. É evidente que não podemos
sustentar tal coisa, sob pena de nos tornarmos uma agência de promoção social.
A Ordem não é contrária a garantir formação adequada a quem se destina à
formação, ao ensino ou a outros serviços à fraternidade. Se não temos um
projeto global para melhorar as condições de vida e de fé das pessoas, nos
tornamos facilmente vítima de egoísmos de partido. Não nos “tornamos frades” só
para nós mesmos, e nem também nos “fizemos
frades” para ascender a um melhor padrão de vida, mas para viver o nosso
carisma fraterno e testemunhá-lo no meio do povo, onde nascemos ou onde somos
levados pela divina inspiração e com o mérito da santa obediência, sempre na
partilha da condição social do povo humilde e dos pobres do lugar. E se somos
convidados para estudos superiores é para que as pessoas a nós confiadas possam
ser beneficiadas. Não sendo por isso, que sentido há?
4ª URGENCIA: 1.4 Passar de projetos pessoais a projetos
fraternos
9.
Nas Circunscrições onde as vocações são escassas e os candidatos, às vezes, têm
uma média de idade elevada, percebo a forte tendência a considerar a escolha de
nossa vida uma busca de auto-realização. O perigo é que cada um tenha seu
próprio projeto pessoal para realizar sem ter em conta o da fraternidade. Deste
modo o aspecto pessoal é exasperado e acentuado de modo totalmente
individualista e narcisista. Quem abraça a nossa forma de vida deve ser
orientado para ter consciência da forma de vida à qual renunciou, só assim
poderá conscientemente assumir e exercitar a vida nova. O confiar-se à
fraternidade, pronunciado no momento da Profissão dos Conselhos evangélicos,
exige um verdadeiro e próprio caminho de descentralização, um passar do meu
projeto pessoal ao fraterno. Neste contexto deve-se pôr em discussão também
todas aquelas idealizações do nosso carisma que constituem um álibi para não
aceitar a fraternidade real, a dos irmãos que o Senhor de fato nos deu e não os
que queremos. Quem chega a nós depois de ter passado
por um processo de conversão, se os tempos
do acompanhamento não foram adequados e bastante longos, freqüentemente
tende a regredir a formas e visões não correspondentes ao nosso ideal e vida.
A escolha de nossa vida se torna então um trampolim ou plataforma para algo que
é profundamente estranho. Isto se torna possível porque uma parte de nós mesmos
não tem bem claro o que quer ou também porque falta a franqueza no repreender
um irmão que parece ter abraçado a nossa forma de vida de modo muito
superficial.
5ª URGENCIA: 1.5 Que os frades trabalhem
10.
Aqui e ali aflora também uma nítida recusa ao trabalho manual e doméstico.
Temos tantos empregados que nos habituamos desde os primeiros anos da formação
a sermos servidos em
tudo. Alguns o fazem para poder dedicar-se
plenamente ao trabalho pastoral enquanto outros porque empenhados nos estudos.
Neste caso é a vida fraterna que deve ser revista, pois nos reduzimos a rezar e
a fazer as refeições juntos, mas tudo o mais é solicitado a outros. Os muitos
empregados também tornam muito difícil o necessário redimensionamento das
nossas presenças e, graças aos empregados pagos, cremos poder dar presença
mesmo com um número reduzidíssimo de
frades. O que se deteriora e morre é o testemunho de fraternidade. Que fazemos
nós das repetidas indicações dos CPOs e outros documentos da Ordem para os
quais todos nós devemos assumir uma parte dos trabalhos da casa?
2.
Qual é a meta última da nossa opção de vida?
2.1
Uma vida doada
11.
Qual é o nosso ideal de vida, se não o de uma doação total e incondicionada de
nós mesmos a Deus e à humanidade inteira? Perguntemo-nos sinceramente: o que é
que dá sentido à nossa opção de vida? Na fórmula da profissão dizemos:
“Visto que o Senhor me inspirou a seguir mais de perto o Evangelho e os passos
de nosso Senhor Jesus Cristo… faço voto a Deus e … me entrego com todo coração
a esta Fraternidade.” O que conta e o que caracteriza a nossa escolha de vida é
a doação total e incondicionada de si mesmo. Que sentido tem falar de
consagração, se colocamos condições e reservamos para nós mesmos, espaços de
tempo e de lugar sobre os quais ninguém tem o direito de inquirir? Eu creio
que, no respeito à vida interior de cada um, a fraternidade pode e deve pedir a
cada irmão individualmente para viver intensamente aquilo que prometeu. Os três
votos abrangem todas as esferas da vida, enquanto tocam o aspecto da livre
realização de si mesmo (obediência), da propriedade (sem nada de próprio) e da
vida afetiva (castidade). A consagração nos diz que colocamos à disposição,
reservada a Deus e aos irmãos, não só uma parte, mas toda a nossa vida.
2.2
Seguir as pegadas de seu Filho dileto, nosso Senhor Jesus Cristo
12.
São Francisco jamais parou de indicar no seguimento de Cristo, humilde e pobre,
o caminho para chegar ao Deus Altíssimo, Uno e Trino[9]. Conformemo-nos Àquele que, sendo rico, esvaziou-se a si mesmo para
assumir a condição de servo (Cfr. Fl 2,7),
significa ter bem presente aquilo que nosso Senhor afirma de si mesmo: “Eu não
vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgata de muitos.”
(Mc 10,45). Vêm em minha mente as
palavras de nosso São Pio de Pietrelcina, o qual afirmava que sob a cruz se
aprende a amar. O caminho da auto-realização cristã passa por um processo de
esvaziamento: “quem perde a própria vida por minha causa e a do Evangelho
encontrá-la-á” (Mc 8,35) . Recordamos
também aquela forte afirmação, segundo a qual não há maior amor do que dar sua
própria vida por quem se ama (Cfr. Jo
15,13). Abraçar a vida evangélica significa crescer na dimensão de um
amor capaz de doar-se, significa aprender a amar sem jamais voltar atrás.
13.
Daí resulta que um dos valores a perseguir é exatamente o da disponibilidade, mesmo quando nos custa. Lembro o
que São Francisco escreve na Carta a toda a Ordem: “Portanto, não retenham nada
para si mesmos, a fim de que os receba totalmente aquele que totalmente se
oferece a vocês.”[10]
No início das celebrações do Oitavo
Centenário da confirmação da Proto-regra pelo Papa Inocêncio III, recordamos
como Francisco chegou a esta opção de vida, depois de um longo percurso que o
levou a uma verdadeira descentralização. Se antes evitava os leprosos porque lhe causavam náusea e permanecia
firme nas suas sensações de desgosto, depois, graças ao próprio Deus,
procurou-os e usou de misericórdia[11] para com eles. Em Francisco houve uma
transformação de 180 graus: totalmente para Deus e para os irmãos. Não se
consegue não reter nada para si se não passando por um processo de profunda e,
às vezes, também dolorosa transformação. Mas, realmente, a nossa vida se
torna bonita e sensata exatamente a partir desta dimensão do dom
incondicionado, dimensão esta que somos chamados a assumir conscientemente.
Sinto necessidade de manifestar que não faltam
aqueles que continuam a dar o seu testemunho de plena fidelidade e de
solicitude para com as pessoas a eles confiadas, vivendo em condições bastante
difíceis. Eu encontrei jovens
que me disseram: “Ministro Geral, nós estamos prontos a partir para a missão a
que nos destinar!” A reforma capuchinha se caracteriza por aquele radicalismo
do qual falava acima e que a Igreja mesma não para de recordar-nos: ir onde
ninguém está disposto a ir[12] e fazê-lo com alegria[13]. Só um coração que ama e quer o bem das
pessoas mais abandonadas é capaz de fazer isto.
3.
Quais são os valores a transmitir às novas gerações capuchinhas?
14.
Para acolher profundamente a dimensão da doação incondicional de si mesmo, a iniciação à nossa
vida deve fundamentar-se na transmissão
de determinados valores e interrogar-se sobre a (modalidade e os tempos ?)
desta transmissão. O caminho formativo exige, além disso, uma (verificação
precisa ?) do que se transmite. E não tem sentido falar da transmissão dos
valores centrais da nossa vida se, ao mesmo tempo, não se sente a forte
necessidade de insistir na exigência de encarnar esses mesmos valores na
vivência quotidiana de cada fraternidade e de cada frade. Não existe nada de
mais deseducativo do que a falta de coerência dos formadores e, de certo modo, todos
somos formadores, pelo menos com o nosso exemplo. É este um campo onde não é
possível assumir uma posição de neutralidade: ou somos formadores ou nos
tornamos deformadores!
3.
1 A escolha( decisão/liberdade) da vida fraterna em minoridade
15. O fim último de nossa escolha de vida é a
consagração, a doação de nós mesmos. (a Deus) Cada gesto e cada ato tem
sentido a partir da consagração. Acrescenta-se também que existe uma
modalidade insubstituível em nosso modo de realizá-lo. Trata-se da
identidade fraterna minorítica, herança preciosa de São Francisco. Este aspecto
foi aprofundado abundantemente nos últimos decênios e foram feitos diversos
contatos com as autoridades da Igreja para obter o reconhecimento de nosso
carisma deixado por São Francisco. Quem escolhe a nossa vida, o faz em
primeiro lugar para tornar-se um frade menor. Esta é a opção fundamental e
que está antes de qualquer especificação subseqüente. Na Ordem fundada por São
Francisco não existem categorias, existem irmãos e existe cada irmão. Disso
resulta que a vida fraterna e a capacidade de relacionar-se com todos
indistintamente, deve ter a primazia em nossa caminhada quotidiana. Os meus
predecessores escreveram páginas intensas sobre isto e os CPOs (cfr. I, 20-22;
II, 22; IV, 14. 22; VII, 7) várias vezes iluminaram devidamente o mesmo
aspecto. Todavia, a prática o confirma, a Ordem ainda está fortemente inclinada
a favorecer em primeiro lugar a formação dos frades orientados às ordens
sacras. Na formação inicial, em particular durante o pós-noviciado, a inclusão
dos estudos filosóficos e teológicos, privilegia de fato a escolha clerical.
Somos uma Ordem de irmãos segundo a “revelação” que o Senhor fez a Frei
Francisco, dando-lhe irmãos e mostrando-lhe que devem viver segundo a forma do Santo
Evangelho[14]. Por isso as nossas Constituições afirmam:
“Viver como irmãos menores uns para com os outros é a parte fundamental da
vocação franciscana. Por isso a vida fraterna deve ser sempre e em toda parte
uma exigência fundamental no processo de formação.” (Const. 23, 4)
6. São Francisco atribui seu caminho de
conversão e o início da nova fraternidade evangélica minorítica à intervenção
do próprio Deus. Por isso não
cessará jamais de restituir a Deus o que
a Ele pertence, numa oração que assume sobretudo as conotações de
louvar, de honrar, de bendizer, de agradecer e dar glória. E Francisco não se
cansa de convidar os seus frades a fazer o mesmo, estendendo o convite a todos
os povos, aos governantes, a todas as criaturas. Ele está dominado pela
consciência de um amor que invade continuamente a sua existência e por isto ele
cria formas sempre novas para proclamá-Lo e para envolver a fazer o mesmo, o
maior número de homens e mulheres. O louvor nasce da contemplação, da
prolongada meditação dos grandes eventos da história da salvação. É assim
que se explica o seu enlevo na entusiasta afirmação: “Tu és tudo, Tu és a nossa
riqueza suficiente!”[15].
A reforma capuchinha surgiu a partir de um
desejo profundo de retornar aos eremitérios, lugares afastados, que favoreçam a
intimidade com Deus. As nossas
Constituições, desde as primeiras páginas, nos convidam “a dar prioridade à
vida de oração, especialmente contemplativa” (Const. 4,3). O prolongado estar na presença de Deus, dando-Lhe
tempo e afetos, não impediu, mas antes tornou mais viva a sua capacidade de
percepção dos sofrimentos dos outros e dos frades, quando se manifestava a
necessidade de uma ajuda concreta, não interpunham nenhum obstáculo e com
rapidez se colocavam ao serviço dos mais necessitados. Sem poupar-se.
Pergunto-me se as reticências observáveis no campo da missão não nascem de um
enfraquecimento na Ordem da dimensão contemplativa. Quem contempla um Deus que
se doa todo a nós, um Deus feliz exatamente pelo gesto de doar-se[16], não pode permanecer indiferente e não pode
sequer ficar de braços cruzados.
De uma vida de oração pela metade só pode nascer um serviço pela metade,
frágil, que desiste ao primeiro obstáculo encontrado ao longo do caminho.
17.
“A prioridade do espírito e da vida de oração deve ser posta absolutamente em
prática tanto pelas fraternidades como para cada um dos frades, onde quer que
more como é exigido, pelas palavras e pelo exemplo de São Francisco como pela
sã tradição capuchinha.” (Const. 53,1).
Freqüentemente nos contentamos em ter participado da oração da fraternidade, de
ter recitado o breviário mesmo sozinho, sem nos preocupar-nos de dar um passo
adiante, o de adquirir o espírito da oração. Este não pode surgir senão no
terreno da interioridade pacientemente cultivada. Como chegar a esse espírito
se passamos horas e horas a consumir indistintamente tudo o que é oferecido
pelos meios de comunicação? É impensável chegar a ele sem capacidade de
renúncia e sem ter bem claro quais são as prioridades da nossa vida.
3.3
Aproximar-se dos pobres
18. As nossas Constituições não se cansam
de repetir dois aspectos fundamentais da nossa escolha de vida franciscana de
pobreza: “cultivar a pobreza radical, tanto pessoal como comunitária,
juntamente com o espírito de minoridade” (Const.
n. 4, 3). No parágrafo seguinte lemos: “Praticando entre nós mesmos a
espontaneidade fraterna, vivamos alegremente no meio dos pobres, dos fracos e
dos enfermos, partilhando sua vida e mantendo nossa abertura característica em
relação ao povo.” (Const. 4, 4)
O que as Constituições afirmam é
claramente o reflexo da vontade de São Francisco expressa com muita força em
algumas passagens da Regra não bulada:
“Todos os frades se empenhem em seguir a humildade e a pobreza de Nosso Senhor
Jesus Cristo e se recordem de que nada nos é consentido ter, em todo o mundo,
como diz o apóstolo, senão o alimento e as vestes e com isto devemos nos
contentar.” E imediatamente após Francisco acrescenta: “E devem ficar alegres
quando estiverem entre pessoas de pouca consideração e desprezadas, entre os
pobres e fracos, entre os enfermos e leprosos e entre os mendigos ao longo da
estrada”[17]. Essas suas palavras são
ditadas pela experiência pessoal aprendida na própria pele o que significava aproximar-se
dos leprosos e usar de misericórdia para com eles[18]. “Identificando-nos com a
experiência de Francisco, vamos para junto dos ‘leprosos’ do nosso tempo
empenhando-nos a usar de ‘misericórdia’ para com eles.” (CPO VII). Raramente a companhia dos pobres nos é cômoda e é natural
que sintamos o desejo de evitá-los, de nos comportarmos como o sacerdote e o
levita do Evangelho (Cfr. Lc 10). Exatamente
por isto somos chamados a um longo caminho de conversão para aprender a ser
seus companheiros de caminho e para aliviar suas penas. Se em nossa mente se
insinuasse a preocupação de evitar o mais possível toda presença ou companhia
dos mais pobres e abandonados de nosso tempo e da sociedade na qual vivemos,
então é de peguntar-se seriamente com que direito continuamos a usar o nome de
“frades menores”?
3.4 O
carisma da renovação contínua
4.
Como transmitir estes valores durante a formação inicial?
20.
Os objetivos da formação inicial são
formulados de modo claro e integral pelas nossas Constituições 25, onde se
afirma que os candidatos, guiados pelos formadores, são preparados progressivamente para a vida franciscana evangélica.
O processo de iniciação é em seguida explicitado na íntegra em cada etapa:
postulado, noviciado e pós-noviciado. Isto implica numa abertura contínua e
generosa, a Deus, à fraternidade e ao mundo inteiro. Se o objetivo final da
formação inicial é a doação de si generosa e incondicional ao seguimento de
Cristo nos passos de Francisco, as diversas etapas devem servir principalmente
para isto. Onde se adverte que existem problemas na obtenção deste resultado
é necessário rever e reajustar as modalidades para chegar àquele espírito de
disponibilidade total. Recorda-se, ainda uma vez, como princípio geral, a
necessidade de ter um itinerário educativo igual para todos os candidatos ao
longo das três etapas da formação inicial.
21. Desejo esclarecer o meu pensamento, pois temo que, tão
logo se acene às correções que atingem a certos percursos formativos, sobretudo
quando se toca na etapa do pós-noviciado, nós nos perdemos numa longa e inútil
inquisição sobre se esta etapa deve ou não prever o estudo da filosofia em
vista do estudo da teologia. O ponto principal da questão não é este, mas antes
o de identificar a fórmula que melhor permita atingir o objetivo formulado
acima: uma disponibilidade a todo campo. A referência primária desta etapa deve
ser a da consagração religiosa e da profissão da nossa vida, e não o da
preparação para o cumprimento dos deveres e/ou ministérios específicos.
22. Não é aqui o caso de inventar algo de novo,
mas simplesmente reforçar e trazer luzes ao que é proposto pelas nossas
Constituições. Aí estão os elementos que são conscientemente introduzidos e dos
quais ainda não se teve uma boa colheita. Refiro-me em particular ao fato de que quando as
Constituições falam de formação inicial se usa a categoria da iniciação.
4.1
Um caminho de iniciação
23.
As nossas Constituições distinguem três etapas do caminho formativo que deve
abranger toda a nossa vida: iniciação à nossa vida, formação especial e formação
permanente. A iniciação é orientada à consagração religiosa segundo
a especificidade de nossa forma de vida e à progressiva inserção em nossa fraternidade
através do postulado, do noviciado e do pós-noviciado (Const. 27). A iniciação à nossa vida está em função do ser
frade, enquanto a formação especial se põe em função do agir dos frades. Como
formação especial as Constituições entendem o percurso de preparação inicial à
vida apostólica à qual cada um de nós é chamado a desenvolver seja no
ministério ordenado ou com uma atividade de tipo profissional, variada e
intensa.
O termo iniciação foi introduzido nas
Constituições de 1968 e foi escolhido deliberadamente em analogia à “iniciação
cristã”. Isto significa que o
acento principal no caminho formativo se põe na transmissão e no aprendizado
progressivo dos valores e das atitudes fundamentais da nossa vida, valores aos
quais há pouco acenei, mesmo se brevemente. No centro da preocupação do
formador não deve estar a constatação de quanto um candidato conhece a
propósito de nossa forma de vida, com todas as referências históricas do caso,
mas antes até que ponto está decidido. O caminho formativo comporta necessariamente
um caminho de transformação ou uma conformação a um modelo de vida como
nos é proposto por Cristo e por São Francisco. O carisma franciscano capuchinho
não é algo abstrato: são as pessoas individualmente que devem incarná-lo.
Quantos de nós abraçamos esta vida porque encontramos um frade que nos
impressionou profundamente! Daí nasceu o desejo de abraçar a mesma forma de
vida. Isto não acontece num dia, mas exige um caminho a percorrer
progressivamente e onde é necessário deixar-se guiar. Eis porque a dimensão
primeira da formação inicial será ulteriormente aprofundada: devemos elaborar
uma visão integral do caminho a propor em vista de atingir uma sólida
conformação ao nosso carisma. Ocorre esboçar as modalidades deste caminho
progressivo, de modo que os vários agentes da formação, ministros e formadores
encarregados das várias etapas da formação inicial, disponham de referências
válidas e seguras para desenvolver o seu serviço.
24.
Ao formador incumbe uma grande responsabilidade. O desafio que tem diante
de si não é pequeno, mas que deve ser considerado do ponto de vista da beleza
do percurso a seguir. Fundamentalmente trata-se de introduzir alguém numa
forma de vida que foi abraçada pessoalmente e da qual nos sentimos orgulhosos.
O formador é chamado a exercer uma verdadeira paternidade
psíquica e espiritual, favorecendo o caminho de crescimento, deixando a
cada um o tempo de assimilar e de amadurecer, intervindo quando se trata de
reajustar o caminho e de levar o candidato a uma nova etapa. Trata-se
necessariamente de um percurso progressivo que deve propor, a quem se pôs neste
caminho, desafios graduais. A formação deverá ser
configurada de modo a consentir um real crescimento na maturidade afetiva, na
fé “adulta” e na interiorização dos valores. A iniciação traz consigo
também o aspecto experiencial, momentos nos quais o irmão em formação é
confrontado concretamente com os vários aspectos dos valores de que se falava.
Não esquecerei jamais, a tal propósito, quanto foi enriquecedor para mim o mês
em que fui convidado a viver com os mendigos da cidade de Zurique durante o meu
caminho de formação. Em alguns momentos pensei que não superaria o desafio,
porque faltava o ambiente sereno e protegido do convento, contudo aprendi a ver
o pobre não mais sob o manto do romantismo, mas como uma pessoa em grave
dificuldade e muitas vezes marcada em todas as dimensões do seu ser. Agradeço
aos meus formadores de então que nos prepararam para viver esta experiência e
em seguida nos ajudaram a ter consciência do caminho feito. Neste sentido, o
caminho formativo deve assumir as conotações de um verdadeiro processo e se
evite toda forma de fragmentação.
25.
Para os formadores das várias etapas é importante poder valer-se do apoio da
fraternidade, que se sintam envolvidos e co-responsáveis no trabalho formativo.
O dever da iniciação e da formação inicial específica é de toda a fraternidade.
É, pois tarefa dos Ministros prestar especial atenção
quando compõem as fraternidades nas quais si cumprem cada etapa do caminho de iniciação à nossa
vida. Parece-me útil exortar os Ministros, a seguir com muita atenção e
com zelo todas as pessoas empenhadas no caminho formativo inicial.
4.2
Acompanhamento personalizado
27.
O caminho da iniciação é uma proposta feita a
todos os candidatos a nossa vida nas várias etapas do percurso de formação
inicial. Todavia, é necessário que haja também o acompanhamento
personalizado, pois acolher e integrar o que é proposto, é algo que varia de
pessoa para pessoa. Isto vale tanto para os candidatos que entram na idade
adulta como para os que entram muito jovens. Quem escolhe a nossa vida, é
chamado a deixar para trás toda uma realidade de afetos e de realizações para
abraçar um novo ideal, nem sempre, imediatamente assimilado. A passagem que
descrevemos pode não acontecer, mesmo que nas aparências o candidato se mostre
adequado a todos os comportamentos dele esperados. O acompanhamento pessoal
permite ao candidato enfrentar os desafios de cada passo proposto pelo
formador, de dar-se conta de que uma adequação somente exterior não poderá
jamais realizá-lo. Aprende, outrossim, a identificar quais os obstáculos mais
difíceis de superar, e aprende também a conhecer-se melhor e a experimentar em
seu íntimo a beleza do caminho que lhe é proposto. É indispensável que se
conscientize do que quer fazer da sua vida diante do chamado que o Senhor lhe
dirigiu.
28.
O processo formativo exige também que sejam feitas verificações oportunas do caminho
percorrido por cada candidato. O acompanhamento lhes permitirá assumir a
futura interiorização dos valores proclamados e constatar se já atuam na vida,
nas suas escolhas, em seu modo de pensar e de agir. Integrar
e consolidar os novos valores exige uma caminhada paciente, lenta, progressiva.
Por isso não podemos nos contentar pelo fato de que alguém seja um ótimo
executor do quanto lhe é proposto. O fato de obedecer exatamente ao
que é pedido não revela necessariamente que o candidato à nossa vida acolheu a
orientação em seu
coração. Nisto acho absolutamente genial o que nos deixou São
Francisco quando fala da obediência
caritativa. Isso revoluciona completamente o discurso e dá um salto
qualitativo de grandíssimo nível. Obedecer amiúde significa simplesmente
executar uma ordem e isto eu posso fazer também sem aderir interiormente ao que
me é pedido. No melhor dos casos eu adiro e faço como num ato de confiança em
quem me pediu algo. De passivo me torno ativo! Faço meu o que num primeiro
momento me parecia como uma ingerência proveniente do exterior. Mas Francisco,
na III Admoestação, explicita seu pensamento retomado e bem estruturado pelas
nossas Constituições (Const. 164-167),
propondo-nos um tipo de obediência que simplesmente supera o ser executor para
assumir as conotações de iniciativa pessoal[19]. Não espero que me peçam algo, exatamente
porque estou atento às necessidades que vejo, eu tomo a iniciativa e ajo antes.
Torno-me propositivo em relação a cada irmão e a toda a fraternidade. Existem
os que jamais tomam uma iniciativa por medo de errar e de arcar com as
conseqüências. Isto é muito perigoso, pois significa que alguém cresce
unicamente sob o signo do medo. Basta pensar na parábola dos talentos no relato
de Lucas! (Cf. Lc 19). É realmente
para questionar-se quando um candidato jamais manifesta interesse particular
por nossa história, pelos confrades ou pelos trabalhos de uma Circunscrição.
Está presente fisicamente, mas ninguém sabe onde está seu coração!
29.
Compete em primeiro lugar ao formador responsável por uma etapa específica
acompanhar o candidato no caminho de integração dos valores significativos de
nossa particular forma de vida. Cabe a ele mostrar-lhe a meta a atingir e
as modalidades do caminho a percorrer. Assim ele é mais do que um observador
neutro, pois envolve a si mesmo e a sua própria opção de vida na delicada
tarefa que lhe foi confiada. Convicto da bondade de nossa forma de vida, ele
não teme propor ao irmão que acompanha, novos desafios em vista da meta a
atingir. Se em seu coração está o interesse pelo crescimento do candidato, não
deixará, se necessário, de interpelar-lhe para fazê-lo sair da tibieza.
Como foi indicado acima, o formador é chamado a exercitar uma paternidade, sendo
o seu dever promover o crescimento humano e espiritual do jovem a ele confiado.
Neste sentido eu acho que se trata de um dever apaixonante e de grande
responsabilidade. Hoje muitos temem assumir esse trabalho. Seu temor não se
deve unicamente ao fato de pensar em não estar suficientemente preparados para
o encargo, mas pela distância que se interpõe entre o formador e o resto da
fraternidade. A incerteza do formador, na maioria das vezes, não é senão um
reflexo da incerteza de toda a fraternidade. Não basta ter adquirido uma
competência profissional se a fraternidade como tal parece ter perdido a
bússola e atravessa uma profunda crise de identidade. Neste sentido o formador
não pode suprir as deficiências de todo um grupo. Com isso quero dizer que a crise
dos formadores é sempre a crise de toda uma fraternidade. Devemos trabalhar
muito ainda para melhorar a preparação específica dos formadores, dando-lhes
instrumentos humanos e espirituais adequados, mas isto não basta. Aos responsáveis pelas várias Circunscrições quero lembrar o
quanto é importante a formação permanente entendida como caminho contínuo de
renovação da nossa vida. Neste sentido me parece evidente que muitas das
dificuldades que encontramos no plano da formação inicial não são senão o reflexo
de uma crise que estamos vivendo em outro plano. Disto deve nascer a
consciência de que estamos todos diante de um grande desafio e uma
responsabilidade que envolve a todos. Não me causam temor os frades que afirmam
que a Ordem está passando por uma crise de identidade, mas os que, acomodados,
abandonaram toda a busca e não têm a menor preocupação em avançar para novos
horizontes. Aos formadores devemos muito reconhecimento e toda a Ordem deve
sentir-se comprometida em dar-lhes apoio, criando as condições para que possam
realizar serenamente o seu trabalho.
5. Os tempos do caminho formativo inicial –
algumas observações
30.
Levar um candidato até à profissão perpétua, verificando se fez uma progressiva
assimilação dos nossos valores e que esteja em condição de assumir a sua vida e
as relativas escolhas a partir de sua consagração a Deus em nossa fraternidade,
exige, além do que foi amplamente apresentado, o tempo necessário para que isso
possa acontecer. As nossas Constituições previram sabiamente três etapas
com uma duração mínima de 5 ou 6 anos: postulado, noviciado e pós-noviciado. A
realidade se tornou muito complexa e hoje não podemos prescindir de diferenciar
o discurso sobre os tempos necessários para realizar o caminho da formação
inicial. Esta carta, digo mais uma vez, não pretende enfrentar todos os pontos
e as dificuldades que se apresentam ao longo deste caminho. Interessa-me,
porém, iluminar alguns problemas e indicar alguns pontos nodais, onde a Ordem é
chamada a assumir decisões que orientem de modo diverso o caminho.
5.1 O
postulantado
31.
Entrando no mérito dos percursos de formação inicial da Ordem, devemos
considerar dois dados fundamentais: existem áreas geográficas, sobretudo as do
hemisfério norte, nas quais quem nos procura, o mais das vezes, já é adulto e
traz consigo um caminho de vida e de busca mais ou menos longo, enquanto em
outras regiões, sobretudo as do sul, vigora ainda um percurso seminarístico, onde os jovens buscam a nossa vida antes
dos vinte anos de idade. Por diversas razões, em ambos os casos, se adverte
sobre a necessidade de prolongar o período que precede o noviciado. Ao
norte, muitos candidatos vêm a nós após uma experiência de conversão e depois
de ter deixado por muito tempo toda prática religiosa, por isso se adverte
urgentemente a necessidade de um adequado caminho catequético e de uma
integração progressiva dos valores religiosos básicos. No sul, pela pouca idade
dos candidatos, chama-se a atenção para a necessidade de favorecer o processo
de maturidade que permita fazer opções conscientes e responsáveis. Eis porque algumas Circunscrições, sobretudo as da Índia, me
informam que previram além do tempo do aspirantado, dois anos de postulantado,
mais um ano de pré-noviciado. Por diversas razões a necessidade de
prolongar os períodos que precedem o noviciado parece ser uma exigência comum a
todas as Circunscrições da Ordem. A escolha de
intensificar este período e de diferenciá-lo nas propostas formativas é
louvável e necessário. Toda esta fase é dedicada principalmente ao
discernimento vocacional e quem pede para ser admitido ao noviciado deve estar
plenamente consciente do que pede. Algumas Circunscrições, exatamente
para prolongar o período do discernimento e favorecer uma sã maturação antes da
entrada no noviciado, optaram por antecipar o estudo da filosofia para o
período do postulantado. É de se perguntar: não seria mais oportuno buscar essa
meta aplicando-se ao aprofundamento do que é proposto nas nossas Constituições
para esta primeira etapa da formação inicial?[20]
5.2 O
noviciado
32.
O noviciado parece ser a etapa que tem menos problema. Decididamente é
também a etapa mais protegida pela legislação da Igreja. É durante este período
que os candidatos são iniciados mais intensamente em nossa vida e fazem uma
experiência mais profunda (Const.
29). Onde o noviciado é comum a várias Circunscrições, surgem aqui e acolá
dificuldades sobre a impostação mais ou menos rígida a ser dada a ele. Para mim
em geral, o perigo parece ser a excessiva idealização desta etapa, o que pode
fazer pensar que seja este ano suficiente para lançar as bases para toda a vida
que segue. Concluo do fato que em muitos lugares o período que se segue o do
pós-noviciado, é consagrado em primeiro lugar aos estudos acadêmicos,
descuidando-se a dimensão iniciática desta etapa formativa. Este é um desafio
que exige uma reflexão aprofundada por todos. Reflexão à qual deverão seguir,
mais cedo ou mais tarde, decisões apropriadas.
5.3 O
pós-noviciado
33.
Agora é importante dedicar a nossa atenção à etapa do pós-noviciado. Faz
anos que esta é a etapa mais controversa e que suscita o maior número de
interrogações. Talvez tenhamos feito do noviciado um mito e por isso a etapa
sucessiva aparece bastante enfraquecida tanto nos seus conteúdos como na sua
modalidade. O pós-noviciado deve ser considerado, em primeiro lugar, como o
tempo em que os valores aprendidos no noviciado são aprofundados e integrados
na vida de cada irmão professo temporário, na realidade de cada dia. De
fato, ninguém poderá ser admitido à profissão perpétua, se estes valores, além
de estarem integrados, não estão ainda consolidados e sem que cada candidato dê
suficiente garantia de poder viver com empenho e serenidade os seus votos.
Vivida com coerência, a nossa vida é fonte de júbilo e de serenidade! Não
podemos deixar de verificar se os valores propostos entraram efetivamente na
vida do professo temporário. Isso leva tempo e exige modalidades formativas
adequadas. A meta permanece a da consagração definitiva e da consolidação de
uma atitude de disponibilidade incondicional à fraternidade para o bem e o
crescimento do Reino de Deus.
34.
Tratando deste assunto, o perigo imediato é o de perder-se numa dissertação
estéril sobre os modos de como estruturar este período. Em si não se trata
tanto de discutir se durante o pós-noviciado eles devem ou não estudar. É
natural e ninguém o contesta que também o postulantado e o noviciado são tempos
de estudo. O pós-noviciado também deve ser tempo de estudo. E de se
perguntar antes: que tipo de estudo se pode fazer durante o pós-noviciado? As
nossas Constituições não excluem o estudo durante este período e até prevêem
que: “De acordo com as próprias inclinações e graças, os frades dediquem-se a
um estudo mais profundo da Sagrada Escritura, da teologia espiritual, da
liturgia, da história e da espiritualidade da Ordem, e exerçam apostolado de
diversas formas e também trabalhos domésticos. Tal formação, porém, deve ser
feita sempre em função da vida e do amadurecimento contínuo das pessoas” (Const. 30,3). É evidente que o tipo de
estudo previsto pela nossa legislação visa em primeiro lugar reforçar a
inserção na vida consagrada e o aprofundamento dos vários aspectos do nosso
carisma. Por outro lado, no parágrafo precedente, as Constituições afirmam que
“como a vida fraterna evangélica ocupa o primeiro lugar em nossa vocação, deve
ter prioridade também no tempo de pós-noviciado. Por isso, dê-se a todos os
frades a mesma formação religiosa, em tempo e modo determinados pelo Ministro
Provincial com consenso do Definitório” (Const.
30,2). O IV CPO fala nestes termos: “é o período de aprofundamento e de
maturação de empenho assumido na primeira profissão e prepara os frades para a
profissão perpétua como escolha definitiva da vida evangélica” (CPO IV, 67).
Estes textos falam de estudo e de aprofundamento finalizados na escolha
definitiva da nossa vida, não falam de formação especial a fim de receber
ordens sacras (Cfr. Const. 39). Não
esqueçamos que o acento é posto no fato que esta formação é destinada a todos
os frades enquanto frades; o que significa que esta finalidade está na base e
no objetivo da iniciação à nossa forma de vida, e prescinde da escolha de
orientar-se ou não para as ordens sacras. Na realidade, porém, embora o termo
“pós-noviciado” seja de uso comum na Ordem, isso parece ser entendido em
primeiro lugar como nova denominação do que antes era chamado Estudantado
filosófico-teológico ou Seminário.
35. Do exposto sobre as tendências que preocupam os valores a
serem transmitidos e as modalidades e os tempos para fazê-lo, creio que o
argumento central de toda a discussão não pode ser se se deve estudar ou não,
no período do pós-noviciado, mas antes sobre o modo e os tempos que promovam a
maior e progressiva iniciação à nossa vida e aos valores que são seu
fundamento. E não é nem sequer uma questão de modelos vários:
experiencial ou seminarístico[21]. Sobre isso devemos ser muito coerentes, pois
corremos o perigo de querer atingir a vários objetivos contemporaneamente: por
exemplo, o da preparação à profissão perpétua e o da formação em vista das
ordens sacras. Não nos damos conta, infelizmente, de que assim temos uma falta
de clareza, em detrimento do objetivo primário a atingir: a maturidade afetiva,
a fé “adulta” e a interiorização dos nossos valores, premissas fundamentais
para aceder à profissão perpétua; as condições indispensáveis para enfrentar o
estudo científico da filosofia e da teologia com as suas sérias e envolventes
exigências.
O IV CPO, 22 afirmava: “É
preciso distinguir claramente a formação para o sacerdócio ou a uma profissão.
Sobretudo nos primeiros anos da iniciação, a formação para a nossa vida deve
ter a prioridade absoluta”. Nos casos em que o programa do pós-noviciado
atualmente prevê a inserção de parte da formação especial, é preciso avaliar a
sua impostação e verificar até que ponto ela corresponde às exigências da
iniciação à nossa vida de acordo com as Constituições. Sobretudo é preciso
dispor de um programa que salvaguarde efetivamente a prioridade da consagração
religiosa e da nossa forma de vida fraterna, assegurando de fato e em tudo a
mesma formação para todos os candidatos.
36.
Diante dessas inquietantes tendências que sublinhei no início da carta, devemos
nos interrogar seriamente sobre o caminho a tomar para atingir o objetivo: a
doação total, jubilosa e desinteressada de si, em cada um dos candidatos à
nossa vida. Com esta carta quero comunicar a todos os frades da Ordem qual é o
meu desejo e do Definitório Geral para iluminar as dificuldades do momento,
mas, sobretudo para envolver a Ordem numa reflexão construtiva sobre as
modalidades para atingir, em novas condições, a disponibilidade completa que me
parece ser o fruto mais belo de todo o caminho de consagração. Estou consciente
de que existem Circunscrições que conhecem outros tipos de dificuldade,
diversas das acima mencionadas, mas o que é importante é a possibilidade de
instaurar um clima fraterno de diálogo sobre um tema tão delicado, como é o da
formação inicial. O diálogo deve acontecer sempre à luz do que prometemos e
para o que pretendemos conduzir as
pessoas que pedem abraçar a nossa forma de vida. Em outras palavras, cada um de
nós deve ter sempre presente o carisma que nos deixou São Francisco e o que a
reforma capuchinha amadureceu. Nós não podemos nos contentar com soluções
baratas, talvez individuadas em referências a um mal compreendido critério de
pluriformidade. As formas podem ser
diversas, mas não certamente de baixo valor!
6.
Pontos firmes
37.
Queremos dialogar com todos vocês sobre como melhorar o percurso da formação
inicial em nossa Ordem.
O que não significa querer redefinir tudo. O que afirmam as
Constituições é válido e exige que seja feito com exatidão e fidelidade: a grande intuição da Ordem sobre a iniciação dos candidatos à nossa vida ainda não foi compreendida e nem
suficientemente aprofundada. Por conseguinte, salvo ajustes
secundários e casos episódicos, em geral a impostação da formação inicial
permanece mais ou menos como a tradicional.
As Constituições de qualquer modo poderão
posteriormente ser enriquecidas e melhoradas. Antes, exatamente em referência a
alguns aspectos da formação, as Constituições deveriam ser integradas a fim de
que na Fraternidade se desenvolva mais o senso de comunhão e de colaboração não
só das Circunscrições entre si, mas também com o centro da Ordem e que isto
possa oferecer a cada Fraternidade todo contributo possível para a iniciação
dos candidatos, para a formação inicial e permanente dos frades. O delicado
setor da formação constitui um desafio contínuo para todos; se de um lado a
responsabilidade imediata recai sobre os Ministros das Circunscrições, por
outro, envolve o Ministro Geral, que a
nível de Ordem, junto com o Definitório, deve assumir a função da animação e do
governo, da qual não pode abdicar, posto que a formação dos religiosos é uma
obrigação direta e inalienável de todo Instituto.
38.
Adverte-se, portanto a exigência de dotar a Ordem de uma Ratio formationis ou
“Projeto Formativo”, no qual sejam expostos os objetivos, os programas e os
itinerários concretos de todo o processo formativo dos frades. Antes de
elaborar esse projeto, como seu pressuposto, é necessário que se defina e se
descreva ao menos em grandes linhas o específico percurso da iniciação à nossa
vida nas três etapas do postulantado, do noviciado e do pós-noviciado. A
“iniciação à nossa vida”, considerada pelas Constituições em analogia à
iniciação cristã, implica num esboço concreto de um caminho “catecumenal” que
conduz à profissão perpétua em
nossa Ordem.
É igualmente necessário que seja delineado
melhor o tipo de formação específica para os frades que se preparam às ordens
sacras. Só depois destes trabalhos preliminares será possível orientar o
trabalho da Ratio formationis ou do
“Projeto Formativo” no sentido estrito. Desde agora empenhamos o Secretariado
Geral da Formação a fim de que, com a contribuição de “peritos”, ajude a Ordem
a dar os devidos passos nesta direção.
Também cada circunscrição ou grupo de
circunscrições, como já é previsto nas Constituições (Const. 24,7), devem ter o seu plano
formativo. Estes instrumentos particulares devem ser coerentes com o
nosso carisma.
39.
Desejo, além disso, recordar outros aspectos que a Ordem andou amadurecendo nos
últimos tempos e que são considerados “pontos firmes” e de referência também
para o futuro:
- Há Circunscrições que têm poucos candidatos à
nossa vida e que iniciaram uma caminhada de colaboração com outras
Circunscrições para garantir as melhores condições para o próprio percurso
formativo. Trata-se de uma escolha justa e sábia, pois assim se permite a cada
candidato cumprir o percurso formativo junto com outros e usufruir da presença
de um ou mais formadores “livres de todo empenho que possa impedir o cuidado e
a orientação dos candidatos” (Const.
26,4). Certamente não é oportuno interromper uma relação de colaboração pelo
simples fato de num ano se dispor de um maior número de “próprios” candidatos.
A nossa Ordem deve ainda amadurecer para ter colaboração em todos os níveis, e
não só no campo formativo, um valor a perseguir e a reforçar.
- Hoje é comprovado que o caminho de iniciação
à nossa vida exige o acompanhamento personalizado que permita a cada irmão
caminhar expeditamente e enfrentar os aspectos que o atingem de perto e exigem
que ele tenha maturidade. Algumas Circunscrições que dispõem de muitos jovens
em formação optaram por comunidades com dez candidatos, no máximo. Isto lhes permite consolidar as premissas do
profícuo caminho de integração fraterna e de garantir a cada um o
acompanhamento necessário. As Circunscrições ou grupos de Circunscrições que
continuam, durante o tempo da iniciação, a ter casas de formação com um número
considerável de jovens em formação (20, 30 ou mais), devem interrogar-se
seriamente e avaliar responsavelmente se deste modo si garante efetivamente,
com um acompanhamento personalizado, a iniciação à vida de consagração e a
aprendizagem da vida fraterna. Parece evidente que, para chegar aos
objetivos acima expressos, o número elevado de formandos reunidos na mesma
fraternidade, certamente não constitui uma condição favorável a um bom
acompanhamento. Pode-se tentar remediar acentuando a disciplina, mas isso
não pode ser equiparado sic et
simpliciter ao ato de formar!
- O pós-noviciado é a fase da iniciação em que
são aprofundados e integrados os valores transmitidos durante o noviciado em
vista da profissão perpétua. Contemporaneamente aos momentos de estudo
previstos pelas nossas Constituições (Const.
30, 3), a serem realizados segundo as modalidades típicas da iniciação, (o jovem)
é fortalecido com prolongada experiência de vida ao lado dos pobres, inserido
em compromissos pastorais, dedicando-se aos serviços domésticos, ao trabalho
manual e à oração contemplativa, como momentos formativos irrenunciáveis. É
importante que esta dimensão experiencial não seja um fato fragmentado, mas
acompanhe o irmão na formação ao longo de todo o caminho desta etapa específica
que leva à profissão definitiva em nossa vida.
- Atualmente ocorre que durante o pós-noviciado
os candidatos à nossa vida freqüentam cursos de formação inicial específica em
Institutos religiosos externos. Tais situações sejam seriamente avaliadas e
eventualmente revistas à luz do significado e da meta do pós-noviciado, além da
sua índole própria em função da vida religiosa em nossa Ordem. Em
cada caso também em tais situações deve seguir-se quanto foi dito acima a fim
de que efetivamente seja garantido aos candidatos fortes referências em tudo o
que diz respeito ao nosso carisma franciscano e capuchinho.
7.
Conclusão[22]
40.
Existem outros temas que eu queria tratar com vocês nesta carta e que estão, de
modo especial, no coração do atual Definitório Geral. Refiro-me de modo
particular aos temas ligados à formação inicial específica em preparação à vida apostólica no ministério ordenado ou em outra
profissão e à formação permanente, à colaboração entre as Circunscrições como
valor a ser promovido em todos os níveis da formação e em outros âmbitos da
nossa vida, no apostolado ou nos projetos de casas de oração e de acolhimento.
Eles serão o tema da próxima carta.
41.
Gostaria de solicitar que cada um se interrogue a quem entregou a sua vida e
qual é o modo de viver a própria consagração. É importante interrogar-se por
quem e por qual causa estou disposto a dar a minha vida! Renovando em nós o
sagrado fogo da nossa vocação, estou convencido de que conseguiremos também
renovar as pistas a serem propostas para o caminho da formação inicial. Ela não
pode ser apenas atributo dos Superiores e dos formadores, mas diz respeito a todos
os frades. Diante dela não se pode manter distância ou assumir uma posição
neutra. Tudo isto será claramente em prejuízo do caminho formativo. A vida
religiosa é vivida em tempos, lugares e culturas bastante diversas. A nós cabe
o desafio de enfrentar estas dimensões com espírito fraterno e num clima de
comunhão. Todos sairemos enriquecidos! Que o nosso Pai e fundador, São
Francisco, abençoe o nosso empenho neste campo!
Roma, 8 de dezembro de 2008, Solenidade da
Imaculada Conceição
Frei Mauro Jöhri
Ministro
Geral OFMCAP
[2] O Conselho Internacional da Formação foi
nomeado em 21/06/2007.
[4] O Departamento Geral da Formação é composto
pelo Presidente (Definidor Geral), Secretariado Geral da Formação e pelo
Conselho Internacional da Formação.
[5] Analecta
OFMCap 124
(2008), 36. O Secretariado Geral da Formação atualmente é composto por: fr. Rocco Timpano (Secretario
Geral da Formação), fr. Piero Erik Véliz Valencia, fr. Patrick Crasta e fr.
Marek Karol Miszczyński.
[6] Recordo que as nossas Constituições prevêem
três tipos de formação: inicial, especial e permanente.
[8] O nosso compromisso missionário é outro tema
que merece especial atenção e aprofundamento. Lembro apenas que nossa Ordem consagrou ao tema o III Conselho
Plenário. O artigo 1º do XII capítulo das nossas Constituições tem como título:
Serviço missionário da Ordem.
[9] Cfr. São Francisco, Carta ao Capítulo Geral e a todos os frades 62, FF 233.
[12] A afirmação de Pio XII dirigida aos
Capuchinhos em 1949 é retomada no artigo de GIUSEPPE SCALVAGLIERI
in Laurentianum , 48 (2007) 3, 377-476.
[13] São as palavras que me dirigiu o Papa Bento
XVI na Audiência privada de 5 de janeiro de 2007.
[14] Cfr. São Francisco, Testamento, 16, FF 116.
[15] Cfr. São Francisco, Louvores ao Deus Altíssimo, FF 261.
[16] H.U. von Balthasar, Lo Spirito e
l’Istituzione, Brescia 1980.
[17] São Francisco, Regra não bulada, IX, FF 29-33.
[18] Cfr. São Francisco, Testamento, 1-2, FF 110.
[19] Cfr. São Francisco, III Admoestação, FF. 148-151. Cfr. sobre este tema, Giovanni
SALONIA, Odòs – La Via della vita. Genesi
e guarigione dei legami fraterni,
Bologna 2007
[20] Const. 28,2, Cfr. também os Atos do Encontro sobre o
Postulantado em Analecta OFMCap
109 (1993), 475-483.
[22] Ao redigir esta carta me inspirei entre outras
fontes, nos três anos passados no Instituto de Formação Integral de Montreal.
Para posteriores referências ver: Jeannine GUINDON, Vers l’autonomie psychique. De la naissance à la mort, Montréal 2001