segunda-feira, 8 de novembro de 2010

2 - FRANCISCO DE ASSIS, UMA VOCAÇÃO PARA A MISSÃO

01. Há mais de 800 anos, nasceu em Assis, Itália, por volta do ano de 1182, Francisco de Assis. Filho de uma rica família de comerciantes, quando jovem, tornou-se famoso e querido entre os seus colegas, por conta do seu espírito alegre, festeiro e esbanjador. Patrocinava com freqüência as diversões dos companheiros, sob os olhares complacentes do pai Pedro Bernardone, que também o incentivava na conquista de honrarias e glória. Deus, porém, que o conhecia e o chamara desde o seio materno (cf. Jr 1,5), lhe reservava outras conquistas e outras glórias.
Feito prisioneiro por ocasião de uma guerra entre Assis e Perúgia, doente, foi resgatado após um ano de cativeiro e, aos poucos, tocado pela graça de Deus mediante os acontecimentos do dia-a-dia, foi percebendo que era outro o centro dos seus sonhos. A glória que buscava com tanto afã já não lhe enchia o coração. Não lhe interessava mais servir aos senhores da terra. Um outro Senhor, infinitamente maior e mais valioso, lhe disputava o coração. A Ele valia a pena consagrar a sua vida. Passaram-se alguns anos de lutas interiores e exteriores, até o momento da decisão final.
02. Diante do Crucificado de São Damião, enquanto rezava pedindo ardentemente a Deus que lhe afastasse as trevas do coração, ouviu do Cristo crucificado este apelo: Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída (2Cel 10,4b). A partir de então, enorme paixão pelo Crucificado o dominará, atingindo seu ponto máximo no monte Alverne (setembro de 1224), com as santas chagas.
Certa feita, ouvindo o Evangelho da festa de São Matias que descrevia o Cristo enviando os discípulos dois a dois, em missão, (cf. Mt, 10,9-14), entusiasmado, exclama: É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração (1Cel 22,3). São suas essas palavras após sentir o sopro divino que o impelia e o chamava a pregar. Iluminado por essa chama, começa Francisco sua vida itinerante. Completando a narrativa, afirma seu biógrafo Tomás de Celano: Pois não fora um ouvinte surdo do Evangelho, mas, confiando o que ouvira à [sua] louvável memória, cuidava de cumprir tudo à letra diligentemente (1Cel 22,10).
 03. Há uma dinâmica no anúncio missionário de Francisco. Ele deixa o centro, ou seja, os socialmente afortunados, e dirige-se à periferia, para comungar das dores e das esperanças dos leprosos, dos excluídos e dos marginalizados. Há quem diga hoje: “Um instituto que não se abre às novas pobrezas não tem direito a lamentar-se das crises de vocações”.
Também a intensa vida espiritual, sobretudo eucarística, é um eixo fundamental para se manter aceso o fogo do carisma. Francisco tinha consciência que o primeiro passo é acolher a Palavra de Deus, interiorizá-la através da meditação e torná-la vida na vida. É deixar-se evangelizar para evangelizar. É estar possuído pelo espírito de oração, convertido para a fraternidade dos irmãos, a fim de se tornar o mensageiro da Boa Nova. É estar em estreita comunhão com a Igreja.
04. A Igreja é, por natureza, missionária e toda vocação implica missão. O Novo Testamento situa o Batismo também em contexto de missão. Vivendo e testemunhando a nossa fé, alcançaremos sem dúvida a vida plena. A verdadeira consciência batismal nos tira do isolamento, do fechamento sobre nós mesmos, da auto-suficiência e nos inclui no mistério da Trindade, que é comunhão, doação, partilha. Quem chega a essa consciência estará sempre se perguntando: “Senhor, que queres que eu faça?” Como me queres, hoje, na tua Igreja? Que missão queres me confiar diante de tantos desafios?
05. Com o intuito de despertar a consciência missionária dos seus frades, Francisco dava-lhes conselhos práticos e prudentes: Os irmãos que vão (para o meio dos sarracenos), no entanto, podem de dois modos conviver espiritualmente entre eles. Um modo é que não litiguem nem porfiem, mas sejam submissos ‘a toda criatura humana por causa de Deus’ (cf. 1Pd 2,13) e confessem que são cristãos. Outro modo é que, quando virem que agrada a Deus, anunciem a palavra de Deus... (RnB 16,5-7).
Frei José Soares da Silva, Ofmcap. (Org.)

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